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Porque eles chegam lá primeiro? | Parte 1

Parte da resposta para esta pergunta está na cultura. Sim, a forma como nós mulheres lidamos com o sexo, sexualidade e muitas vezes reprimimos algumas formas de prazer, é cultural. Historicamente, a imagem feminina foi construída de diferentes maneiras. De deusas e sacerdotisas dotadas de poder e beleza, ao longo do tempo, a sociedade impôs à mulher situações de submissão e inferioridade. Houve um momento em que elas não tinham direito ao voto e sua contribuição social se resumia a ser uma boa esposa e parideira. Na cama, seu papel se restringia ao de dar prazer ao homem com quem era casada, além é claro, de poder gerar herdeiros saudáveis e, de preferência, homens.

Enquanto isso, alguns ensinamentos foram histórico e culturalmente passados aos homens. “Tenha o máximo de mulheres possíveis, você tem de ser um garanhão”. “Mulheres que usam sais curtas são putas, mulheres que usam decotes também são e putas não são para casar”. “Mulheres bonitas não são inteligentes e mulheres inteligentes são masculinizadas e essas também não são pra casar”. “Mulheres não estudam engenharia, nem matemática, mulheres não estudam disciplinas exatas, se estudam ou são putas à procura de homens ou são masculinizadas, nenhuma deles serve pra casar”. A função da mulher é casar, ter filhos e cuidar da família. Se uma mulher tem desejo e quer uma posição sexual diferente, se ela propõe ver um filme mais quente ou usar acessórios na cama é puta também”.

No século XX Freud revolucionou ao afirmar que a sexualidade humana é algo fundamental à vida e faz parte da personalidade do ser. Depois disso, diversos autores tentaram descrever o processo de resposta sexual nos seres humanos. William Masters e Virginia Johnson (1966) pela primeira vez procederam à observação de homens e mulheres no decurso de interações sexuais e registaram as alterações que ocorriam nos seus corpos durante as mesmas. Chegou-se à conclusão de que embora homens e mulheres passem pelas mesmas fases, existem especificidades em cada uma delas em termos de duração e intensidade no encontro sexual. Sim, nós mulheres também sentimos prazer!

De lá pra cá, muitas coisas mudaram, é verdade. Na década de 60 com a criação da pílula anticoncepcional abriram-se as portas do mundo do prazer às mulheres, afinal elas poderiam, assim como os homens, ter sexo e poder escolher não ter filhos. Desde então o processo de independência da mulher foi ganhando forma assim como o acúmulo de novas responsabilidades. Além de dedicarem-se às suas carreiras, investirem tempo e dinheiro em especializações múltiplas, elas continuam a exercer papel preponderante na família e nas questões ligadas à vida pessoal.

Mas apesar de conquistas tão importantes e revolucionárias, prazer, desejo, sexualidade, libido e masturbação ainda hoje são assuntos tão obscuros para algumas mulheres quanto o papel da própria mulher na Idade Média. Ao que tudo indica, a busca pelo seu pleno desempenho e prazer sexual ainda parece estar muito longe de se concretizar. E é por isso que ELES chegam lá primeiro. A eles foi ensinado que o sexo é um troféu e que eles merecem e são capazes de obtê-lo. Enquanto a nós mulheres foi ensinado que o prazer pelo sexo é um pecado e devemos nos manter longe dele.

Um amigo para a vida chamado vibrador

Com paciência, temos assistido à desconstrução de que o prazer feminino é algo secundário ou menos importante, ou ainda de que não é possível obter prazer sozinha. Nada disso! Nesse processo de emancipação sexual feminina, no qual todas as formas de prazer são, não somente bem-vindas, como fundamentais, o vibrador tem atuado com certo protagonismo por seus diversos benefícios. Não aqueles com formatos anatômicos e referências ao órgão sexual masculino, mas sim aqueles moderninhos, discretos, coloridinhos, toque aveludado, silicone cirúrgico que cabem na bolsa e em qualquer ocasião!

Apesar de toda modernidade, contam que os vibradores têm suas origens no Egito Antigo. Segundo as lendas, ninguém mais, ninguém menos do que a sedutora Cleópatra foi a primeira mulher a ter um vibrador. Muito criativa, ela colocava abelhas em um pequeno frasco e fechava-o. Furiosos e na tentativa de escapar do aprisionamento, os insetos se movimentavam zumbindo e causando uma vibração nas paredes do frasco. Era assim que Cleópatra massageava sua vulva e clitóris e, desta forma, obtinha prazer.

Lendas à parte, a história diz que o primeiro vibrador, o The Manipulator, era a vapor e foi criado em 1869 por George Taylor. À época o aparelho servia como principal tratamento para a histeria, um mal que acometia mulheres e gerava grande instabilidade emocional. Os médicos acreditavam que perturbações no útero e um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro eram a principal causa do quadro histérico. O tratamento para a doença era a massagem na vulva, denominadas massagens pélvicas e desprovidas de teor sexual, até mesmo porquê, nesse período acreditava-se que a mulher só teria prazer com a penetração.

E se a massagem era tratamento mais indicado para a cura da histeria, isso significava que os médicos à época ficavam um tanto quanto cansados já que o quadro era muito comum. Foi então que surgiu o The Manipulator! Um pouquinho mais tarde, por volta de 1880 outro médico chamado Joseh Mortimer Granville criou e patenteou o primeiro vibrador eletromecânico, movido à manivela.

Em 1902 uma empresa norte americana especializada em objetos de cozinha chamada Hamilton Beach criou o primeiro vibrador elétrico. Era muito luxuoso e requintado exibir seu vibrador na estante da sala, pois isso significava que a família era de posses e se preocupava com o bem-estar das mulheres daquela casa.

Até a década de 1920 o vibrador não era um artigo sexual, mas sim um acessório de saúde com fins terapêuticos. Um pouco mais adiante a sociedade viu nascer os filmes pornográficos e a imagem do nosso amigo vibrador passou a ser relacionada somente ao prazer sexual. Foi quando ele deixou as revistas e vitrines de grandes lojas de eletrodomésticos e passou a ser comercializado apenas em sex shop.

Hoje o vemos como um objeto que faz bem à saúde da mulher de forma geral, seja por meio do estímulo ao orgasmo, na descoberta do próprio corpo e dos pontos de prazer, melhorando a circulação sanguínea da região íntima e, se combinado à prática de alguns exercícios auxilia no fortalecimento da musculatura pélvica, evitando até mesmo problemas de saúde como a incontinência urinária.
Pra fechar esse texto cheio de história, recomendamos o filme Histeria!